Em oito de março de 2014, Rosélia Curvello de Moura, 34 anos, vai viver o tão sonhado dia: a formatura de Licenciatura em Pedagogia pela Aupex/Uniasselvi. Concursada desde 2008 como cozinheira do CEI Espinheiros (anexo ao Caic Espinheiros), ela se prepara para disputar a vaga de professor pelo concurso municipal da Prefeitura de Joinville que deve acontecer até fevereiro do próximo ano.
Como as aulas da faculdade já encerraram, Rosélia brinca que não tem mais o dia de ir às aulas. “Era um prazer ir à aula, me arrumar e surpreender as pessoas que não me reconheciam já que trabalho com uniforme e toca no cabelo na cozinha”, detalha. “Agora, meu prazer é ir para a Pós-graduação”, completa a estudante de Pós-Graduação da Aupex em Educação Infantil, Séries Iniciais.
A cozinheira revela que a experiência na cozinha do CEI Espinheiros (anexo ao Caic Espinheiros) foi uma experiência importante para o entendimento da educação infantil enquanto estudava o curso. “Presenciei muitas situações como observadora que vão me ajudar na profissão de pedagoga”, acredita.
Até alguns anos atrás, Rosélia não acreditava que realizaria o sonho de ser professora. Aos 15 anos de idade ela se tornava mãe solteira. “Minha mãe quem me ajudava a cuidar da minha primogênita. Foi uma época difícil pois tive de abandonar o ensino médio”, lembra. Três anos depois, Rosélia se casou, tendo a segunda filha e quando completou 22 anos teve o terceiro, um rapaz. Hoje, os filhos respectivamente tem a idade de 18,15 e 11 anos. “Meus filhos são uma benção, mas pensei que com o compromisso de criá-los nunca teria condições de pagar um curso”, alegou.
Para dificultar a entrada de Rosélia na vida acadêmica, a estudante ainda passou por uma grande dificuldade familiar. O esposo Claudemir de Moura descobriu um tumor cerebral quando trabalhava como metalúrgico. “Ele perdeu parte da audição e passou por algumas cirurgias. Passei quase dois meses morando com ele no hospital, ajudando nos cuidados. Meu marido tinha convulsões e havia perdido toda a coordenação motora. Não conseguia nem falar”, conta. “A Prefeitura e a Tupy, empresa em que meu marido trabalha na época, nos deram todo o apoio”, revelou.
Ela também afirma que já está acostumada com as surpresas da vida, mas nunca desanimou. “Uma vez roubaram tudo que eu tinha em casa e minha família só ficou com a roupa do corpo. Eu fiquei desestruturada, mas percebi que eu podia correr atrás das coisas materiais”, disse, sorridente.
A cozinheira foi impulsionada a voltar a estudar depois que uma tia dela, aos 51 anos, passou no vestibular. Rosélia então decidiu terminar o ensino médio no Ceja e se inscreveu para o curso de Pedagogia da Aupex. “Foi um dos dias mais felizes de minha vida. Eu sabia que ia ter de me desdobrar ainda mais pelos filhos para dar atenção a eles e ter tempo para estudar, mas me ajudou ter aula só uma vez por semana”. Outro fato que sempre estimulou a estudante foi o apoio da professora por quem ela tem muito carinho. “A tutora Cristiane Paim sempre foi uma verdadeira amiga”.
Ela confessa que o trabalho de cozinheira é corriqueiro devido ao cardápio diferenciado e de qualidade das merendas da Educação municipal de Joinville, mas na cozinha é que ela pratica a arte da pedagogia. “Procuro fazer pratos lúdicos para os pequeninhos. Adoro cozinhar e adoro a pedagogia”.