Há onze meses a vida de Mara Santos Hoppe mudou radicalmente. Os cabelos mudaram de comprimento, a imunidade costuma estar mais baixa, a alimentação e os hábitos estão mais restritos, o tratamento ortodôntico teve de ser trancado, a idas ao hospital e os exames clínicos ficaram frequentes, a rotina passou a ter mudanças bruscas. E a fé cresceu mais do que nunca. Mara está ainda em tratamento contra o câncer de mama, e está animada por já estar na fase de radioterapia preventiva.
“O médico radiologista solicitou a radioterapia para prevenir a volta das células cancerígenas. Já passei pela quimioterapia, pela cirurgia da retirada do câncer, pela mastectomia (retirada do seio direito) e estou confiante de que esta será a parte final do tratamento”, acredita.
A acadêmica de Licenciatura em Pedagogia da Aupex/Uniasselvi decidiu contar a sua história de luta contra a doença para alertar e sensibilizar. Em 8 de abril se comemora o Dia Mundial de Combate ao Câncer. A data serve para conscientizar a população mundial sobre os cuidados à segunda doença que mais mata pessoas em todo o mundo, também conhecido por neoplasia. Os cânceres que mais atacam os brasileiros são os de: pele, próstata, de mama, de cólon e reto, de pulmão e de estômago.
Foi uma dor intensa na mama direita e a percepção de um nódulo feito pelo toque no seio que traçaram a suspeita de um câncer que Mara jamais imaginaria enfrentar. “Estava com 39 anos ao descobrir o câncer e já havia feito uma mamografia aos 37 anos. Fui sempre saudável, fazia exames preventivos anuais, não tinha histórico da doença na família, e havia amamentado por um bom tempo meus filhos. Por este motivo, fui orientada a fazer outra mamografia só aos 40 anos”, relata.
Mas no mês de abril do ano passado, ao procurar a unidade de saúde de seu município, Barra Velha, Mara começou a saga de investigação do nódulo realizando a punção, a biópsia e o exame com o mastologista. Após um mês e meio de longa espera pelos resultados dos exames, ela recebeu a notícia mais impactante de sua vida.
“Ao saber do câncer de mama, eu perguntei ‘Por que eu? Eu que não faço mal a ninguém’”. Meu marido, mãe e filhos me apoiaram intensamente neste momento, mas me pareceu uma sentença de morte na época. A gente se desestabiliza, mas consegue forças de não sei onde”, afirma.
Ela conta que o câncer de tamanho inicial de três centímetros, semelhante a um ovo de codorna, dobrou de tamanho dentro de um mês para sete centímetros, equivalente ao tamanho de uma laranja-pera. “Fui informada dos vários tipos de cânceres. De que eu nem poderia fazer a cirurgia de retirada do tumor tamanha a gravidade do estágio da doença. Tive de fazer seis meses de quimioterapia: a branca e a vermelha, mais agressiva”, lembra.
Um ponto triste no estágio inicial da luta contra a doença citado por Mara foi a retirada do aparelho ortodôntico, que fazia o tratamento dentário há mais de três anos. Também ao longo das sessões, ela começou a cortar os longos cabelos por ter ciência de que em um momento os perderia. “Eu sempre fui muito vaidosa com meu cabelo comprido. Chorava muito por que minha autoestima estava lá embaixo e tudo se acumulava. A quimioterapia causava alergias, sensações ruins, efeitos colaterais, inchando demais o corpo, trazendo o cansaço e abalando o psicológico. Ainda tinha a minha condição de ir frequentemente ao Hospital Municipal São José em Joinville, tornando tudo mais cansativo”, cita.
Devido ao tratamento intenso, Mara teve de se afastar do trabalho e parar as atividades rotineiras no ano passado. Porém, ela não abriu mão de estudar e vir às aulas da faculdade da Aupex/Uniasselvi de Pedagogia, uma vez por semana, de Barra Velha. “Claro que eu poderia ter trancado o curso para me preservar. Mas a faculdade foi a única atividade social que eu poderia fazer naquele momento e aquilo não poderiam me proibir. Estudar me deu forças, me fazia lembrar de que a vida continuava e eu não deveria parar com tudo por causa da doença”, completa.
Para Mara, o momento mais marcante de seu tratamento foi a perda do cabelo. “Levei parte do meu cabelo para fazer uma peruca e a usei por um tempo. Mas é muito incômoda a sensação de dormir com cabelo e acordar careca. Depois, claro, a gente se acostuma. Cheguei até a usar turbante, mas depois me assumi 'careca'”, revela.
Outro momento impactante para a professora foi a confirmação de que, mesmo depois da cirurgia de retirada do tumor, ela teria de começar a radioterapia e adiar os planos de reconstrução da mama. “Minha cirurgia de mastectomia foi um sucesso, e me cuidei muito para alcançar esse resultado. Achei que com o fim do tratamento, a princípio, eu poderia voltar a usar meu aparelho ortodôntico e refazer minha mama. Mas recebi a notícia de que teria de esperar ainda um tempo depois da radio para não ter problemas. Eu desabei naquele momento, mas consegui superar como sempre. Via que muita gente estava passando pela mesma doença, e isso me dava forças”.
Neste ano, ela retornou ao trabalho como professora auxiliar, pois em função da radioterapia precisa se ausentar em alguns momentos. Aos poucos, está construindo uma nova rotina e reconhece que vive um momento feliz. Em breve se tornará uma pedagoga orgulhosa de nunca ter faltado às aulas mesmo em tratamento da neoplasia. A doença, segundo ela, tornou a família mais unida. “Tudo vem com um propósito”, reflete.