Lucia Rieper Janing acabou de ser beneficiada com uma bolsa de estudo integral pelo Prouni. A partir de agora, ela vai estudar os demais semestres do curso de Pedagogia da Aupex/Uniasselvi mais tranqüila financeiramente. A agricultora agora só tem a preocupação de conciliar a rotina corrida com os estudos e com o cuidado dos filhos. Dos quatro filhos, dois nasceram cegos. E é na faculdade da Aupex que ela veio buscar conhecimento para lutar ainda mais pelos dois filhos com deficiência e aprender mais sobre inclusão.
Moradora da região rural de Pirabeiraba, próximo a Estrada do Pico, Lucia mora com seu esposo e seus filhos: duas mulheres de 29 e 25 anos e dois rapazes de 17 e 11 anos. A maior parte da renda familiar vem da venda de hortaliças e plantas cuidadas em sua propriedade. Os descendentes de Lucia com deficiência visual são a jovem de 25 anos, graduada em Tecnologia da Informação, e o caçula de 11 anos, estudante. A filha mais velha, 29 anos, é formada em Nutrição e o filho de 17 anos começou os estudos em Engenharia.
A aluna de Pedagogia menciona que a faculdade é uma realização pessoal e está contribuindo no conhecimento e na luta de seus direitos. Com o apoio de toda a família, ela se esforça para dar conta de estudar a distância, vir às aulas presenciais uma vez por semana, trabalhar na agricultura e dar atenção a família, em especial ao filho mais novo, que precisa de mais apoio.
Lucia aprendeu braile por si mesmo, fez vários cursos de inclusão, de braile, de linguagens, de mobilidade e sempre adaptou o material de ensino das escolas regulares para que os filhos sempre tivessem o acesso igualitário no conhecimento. “Desde o nascimento de minha filha cega sempre encontrei muitas dificuldades para ensiná-la e passei por muito trabalho para fazer as adaptações que o governo nunca ou pouco ofereceu aos deficientes visuais. Vejo no curso uma chance para me fortalecer e aprender o muito que ainda preciso para ajudá-los”, reforça.
Segundo ela, a maioria dos locais está longe de ser acessível às pessoas cegas. Lucia conta que seus filhos já passaram por situações como tombos e batida da cabeça em lugares públicos. A mãe da criança e da adulta deficiente afirma que enfrentou muito preconceito há anos atrás, mas hoje percebe que a sociedade amadureceu com a questão da inclusão e é mais taxativa na cobrança de acessibilidade na cidade.
Lucia aponta que ainda falta preparo e qualificação dos professores no ensino. Ela entende que o governo exige inclusão na Educação porém não possibilita o treinamento necessário para que um professor consiga atender de forma bem sucedida um aluno deficiente de forma geral. “Muitas vezes falta até humanismo das pessoas para com os deficientes. Os alunos deficientes matriculados no ensino regular como o meu filho não dispõe da estrutura adequada para o ensino. Há muito apoio de profissionais e colegas, mas a inclusão precisa melhorar bastante”.
Lucia disse já estar acostumada em adaptar, muitas vezes, o material de estudo e ensinar os filhos coisas que eles não conseguem aprender em função da sua deficiência. “Eu passo bastante trabalho para dar o melhor para eles, mas faço com muita vontade pois todos são meus orgulhos. O que estou aprendendo sobre inclusão na faculdade vai ser muito útil para aplicar no futuro deles e na minha futura profissão”, adianta.