Aos 53 anos, Ester Ozório, acadêmica do último semestre do curso de Teologia do polo Araquari, está prestes a realizar um sonho que alimenta há muitos anos: a conquista do diploma de nível superior. “Em 2007, eu passava de ônibus pela frente da UNIASSELVI de Guaramirim, onde eu morava e vinha de Jaraguá do Sul. Sempre observava as pessoas descendo do ônibus para ir estudar e aquilo mexia profundamente comigo. Eu admirava aquela cena e pensava: ‘Ah…Se eu pudesse voltar a ter uns 19, 20 anos’”, relembra.
Nascida em uma família numerosa no Paraguai, Ester revela que seu pai a retirou da escola quando pequena para que ela ajudasse a cuidar de sua mãe, que estava grávida do filho caçula. Ela entende que naquele momento era necessário o sacrifício. Mesmo longe da sala de aula buscava estudar dentro das suas possibilidades conforme reforça: “O desejo de aprender nunca morreu em mim. Mesmo sem poder ir à escola, eu pegava o caderno dos meu irmão e aos domingos reescrevia tudo o que ele faziam na aula. Era a minha forma de continuar aprendendo”.
Durante muitos anos, a escola lhe parecia um sonho frustrado. Contudo, em 2007 ela retornou ao Ensino Fundamental por meio do CEJA – Centro de Educação de Jovens e Adultos. “Foi como reacender uma chama que sempre esteve viva dentro de mim”, aponta. Mesmo em meio a vários problemas pessoais, Ester se manteve firme e conseguiu concluir o Ensino Médio em 2021.
Ainda quando frequentava o CEJA, a acadêmica conta que lia a Bíblia mas tinha dificuldade para compreendê-la. Até se tornar pastora, função que ela ocupa hoje, Ester realizou diversos trabalhos na comunidade, nas ruas, hospitais e aponta que passou a ministrar a palavra de Deus com a ajuda do Espírito Santo entendendo que era uma necessidade buscar o aprendizado e trabalhar, motivações que nunca lhe faltaram. “A vontade de estudar foi um dos principais motivos para eu querer aprender mais sobre a Bíblia, especialmente sobre seus contextos históricos”, justifica.
Casada, mãe de dois filhos e avó de 10 netos, a pastora descreve que sua família é seu porto seguro e que sempre a incentivou a estudar. “Eles quem respeitaram meus momentos de estudo e oração, e me motivaram nos dias difíceis”. Para ela, uma das maiores gratificações é ouvir seus filhos contarem que se orgulham da trajetória da mãe. Outro item que felicita Ester é ter incentivado muitas pessoas a retornarem aos estudos.
Ela alerta para que as pessoas não desanimem mesmo à falta de incentivo. Alguns familiares não entenderam por que eu ia voltar a estudar depois de tanto tempo. Por outro lado, destaco a minha sobrinha Damaris, que se graduou em Bacharel em Educação Física e permanece como acadêmica pois está fazendo Bacharelado em Farmácia pela Uniasselvi, e me ajudou muito me orientando com os aplicativos de estudo. Ela faz parte da história para realizar meu sonho”.
A futura teóloga compartilha que em sua turma houve um comprometimento forte dos acadêmicos na busca do aprendizado tornando-se uma rede de diálogo. Além de hoje ter aprendido a lidar melhor com as tecnologias do ensino a distância, ela comemora que os colegas de sala estão chegando ao fim do curso preparados como teólogos.
Além do ministério pastoral, Ester também estuda paralelamente em curso para se tornar terapeuta. Ela explica a atividade que desenvolve “Atendo pessoas enfermas, faço visitas e ofereço cuidado emocional e espiritual. Esse trabalho é uma extensão do meu chamado, cuidando das pessoas no aconselhamento, de forma integral, explica.
Ester é mais um exemplo de aluna que não desistiu de seu sonho. Enxergou na academia universitária uma oportunidade para transformação e realização pessoal, situando a força da Educação.
“Para mim, estudar é viver a vida. Porque o conhecimento nos transforma, nos dá mais segurança e confiança, fazendo alçar voos mais altos . Nos faz enxergar além de nós e com esse aprendizado melhoramos nossa compreensão em relação ao mundo e ao outro”, define.